quarta-feira, 27 de julho de 2011

Autoexílios


A dor que me diverte
Abre a porta para dentro de mim,
Navego em ondas calmas
Onde é o meu exílio, lá sou herói
De uma fragata em que desvenda
Os mares; lá sou herói de mim!

O amor que me desperta
Abre a porta para dentro de mim,
Sobrevôo em ventos brandos
Onde é outro exílio, lá sou herói
De uma esquadrilha em que penda
Aos ares; lá sou herói de mim!

A fúria que me corrompe
Fecha a porta para dentro de mim,
Sobrevivo em ondas bravas em
Ventos fortes onde é meu pesar.
Cá sou gladiador de uma arena em
Que luta pela dor e o amor, luto...
E não há exílios; cá sou perdedor
De Mim, às vezes, sou de mim o vencedor!
   
                                         Ivan Ribeiro

terça-feira, 19 de julho de 2011

O bêbado


O bêbado é o mais forte
Dos leões; até ao lado
Da morte, é mais!
O bêbado é o mais belo
Dos modelos; até ao lado
Do zelo, é mais!
O bêbado é o mais sábio
Dos filósofos; até ao lado
Do lábio, é mais!
O bêbado é o mais santo
Dos sagrados; até ao lado
Do pranto, é mais!
O bêbado é o mais cômico
Dos humoristas; até ao lado
Do mico, é mais!
O bêbado é o mais feito
Dos corajosos; até ao lado
Do eleito, é mais!
O bêbado é o mais rico
Dos burgueses; até ao lado
Do cínico, é mais!
O bêbado é o mais alto
Dos soberanos; até ao lado
Do assalto, é mais!
O bêbado é o mais bravo
Dos selvagens; até ao lado
Do escravo, é mais!
O bêbado é o mais fino
Dos elegantes; até ao lado
Do grã-fino, é mais!
O bêbado é o mais livre
Dos poetas; até ao lado
Que o prive, é mais?...
O bêbado é assim, é tudo...
Menos ele mesmo; até ao lado
Do mudo, ele é mais
Um absurdo, até ao lado
Do surdo, é mais!

               Ivan Ribeiro


Soneto



Escravo de mim
 

Deus! Coitado de mim que sou mais bardo
Que fui ontem, e assim continuo inteiro
Por mais um dia dado, e mais guerreiro
Hoje, logo sou! Mesmo quanto me ardo!


Mais coitado, foi meu fiel escudeiro
Já que é a Rosa de Saron, e assim guardo
Em meu íntimo, o peso de teu fardo
Que insiste em pesar num dia fagueiro.   


Eu beijo a boca como beijo a chaga
De um cadáver! Já nem sequer importa
Se ‘stou aqui, ou se ‘spero lá uma vaga!


A dor que hoje me diverte, abre a porta
Para dentro de mim, e assim me afaga
O mais lindo spleen co’a noite já morta!

                                               
                                         Ivan Ribeiro
   

condição de mãe


No dia em que
           O filho não
For até a guerra,
    A mãe irá
             Por ele.

E, no dia em
          Que o filho
For até a guerra,
      A mãe tomará
O primeiro
                  Tiro!

      Ivan Ribeiro

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Prô! no minais?


Dê-me um careta
Diz à grama... Tica,
De professora foi
Há tempos, hoje é
Aluna da vida...
Um careta! Só um
Careta dar-lhe-ia à
 Dona Tica, uma
Grama... Ah, Tica!


Pois a boa preta a
Boa branca; damas
Da Nação mal parida,
 Choram do dia à noite
 Sem preocuparem-se  
Como é ser dama, pois
Preocupam-se é com
A grama,...Tica, diz aos
Seus alunos;...
Pô, meu! Pára com isso
Me dá um careta, aí!?


_Fêssora,... Cê tá é
Brisando!... Cê tem
Bic aí pro careta?


Deixa disso aluno,
Me manda logo o Bic;
É que eu quebrei a
Pedra! Tem outra, aí?
Se, tem! Sua nota é dez!


               Ivan Ribeiro
“Com licença poética, ó meu caro
Oswald de Andrade!”

sábado, 16 de julho de 2011

" AO VIR E IR "




De passagem


A noite veio e o poema não
Surgiu unido a ela,
A noite foi e o lápis não
Fêz-me acender a vela.


 



A noite veio e o poema não
quis nem me pertencer,
A noite foi e o lápis não
Pôs-me a lhe escrever.






A noite veio e o poema não
Caiu de um alto estro,
A noite foi e o lápis não
Fêz-me o seu maestro.




 


A noite veio e o poema não
Ardeu em meu peito,
A noite foi e o lápis não
Deu-me um tal sujeito.




A noite veio e o poema não
Surgiu além do nada,
A noite foi e o lápis não
Fêz-me conto de fada.






A noite veio e o poema não
Desenhou uma vida,
A noite foi e o lápis não
Deu-me nem a despedida.
 


Ivan Ribeiro



 


vadiagem


Ando por aí
Gozando a delícia da noite,
Matando a fome do meu nariz
Em meio à rebeldia que desenho
Num sonho novo dentro ovo.


Por aí vou me ardendo, erguendo-me
Na mais alta-noite, lendo-me
Como se eu fosse um best-seller.


Por aí vou me amando, armando-me
No mais alto-grau, ando
Por terras nunca já trilhadas.


Por onde andei,
A sós, pisei em folhas mortas
Que a vida ao chão as deserdaram,
Mas foi o silêncio do inverno que
Deu-me o gosto de um novo bem.

Ando por aí
Tragando ares de amor proibido,
(Que inda é o meu pecado)
Ares sob o telhado da noite fria.


Por onde ando, querida?
Ando por aí ao acaso da vida
Que me fez de repente estar aqui ,
E novamente estou sempre de partida!


                                             Ivan Ribeiro



haicai


                  À rie

A serpente...veia
Sobre o chão ela rasteja;
É a hora da ceia.


                Ivan Riberiro

Socos gratuitos


Um soco me acertaram
No escândalo da minha vida,
Da selva só me restou um sonho,...
A vida é enorme, mas ela dorme!


Um outro me acertaram
No desespero da minha raça,
Da crença só me restou um sonho,...
A raça é enorme, mas ela dorme!


Um punho me acertaram
No pesadelo da minha noite,
Da perda só me restou um sonho,...
A noite é enorme, mas ela dorme! E, o sonho?


 É o sonho de levar um soco
 No olho que ainda vê só para despertar
 O que ainda não vê!; A vida é calhorda,
 Mas a lida acorda. Uma hora, ela acorda!...


                                                   Ivan Ribeiro

Um grito feroz


Quando o vento soprou
Eu gritei; leva-me
Contigo deste enredo.

Quando perdi a força,
Nada inesperado
Eu gritei; leva-me
Nos teus ombros de aço.

Quando as vozes vieram,
As vozes de “spleen”;
Eu gritei; vão embora, vão!

Às vezes, à luz de vela...
Os versos por versarem
A boca pra falar
Pra beijar teimar;
Eu gritei gritei tanto.

‘stou quase frio,
A dor já me tece me vence.
O poema não é o mesmo
Queu desejei que fosse.
Dói-me a veia que ferve!

Não sei, não!
Mas acho que no fundo
Sou um gatinho indefeso
Dentro dum leão ferozmente
A rugir; por um amor!

                             Ivan ribeiro

cuidado:


Há perigo neste lápis,
O uso deste produto
Pode causar revolta.


Não há níveis seguros
Para o consumo dito
Desta substância lícita.


Na ponta deste lápis
Contem a minha raiva,
E causa dependência.


O uso incorreto deste lápis
Pode levar a vários danos;
Inclusive o de ser poeta!

                          Ivan RIbeiro

Noctâmbulos ais







          

Na casca duma página



A poesia é um edifício;
Cada andar seu é uma estrofe, e
Em seu andar cada apartamento
É um verso, em cada verso um
Cômodo é uma palavra, e em
Cada palavra uma mobília é
Apenas sílaba, e em cada
Sílaba cada letra é só pó, e em
Todo pó cada partícula, é de
Vez um ponto final.

Ivan Ribeiro

Calmaria



Calma! Poeta,
Se não tens o vento
Se não tens a neve
Para todo o seu soneto;
Que te finda a morte
Se, tens a vida toda a mostrar.

Calma! Poeta,
Se, tens a caloria
Se, tens a transpiração
Para todo o seu rondó;
Que te inicie a vida
Se, não tens a morte a negar.

Calma! Poeta,
Tens a calmaria do mundo,
A rebeldia do verbo é sua
O amor é seu a porcaria
Da dor é sua a justiça é sua.

O poderio é seu?!
Tens a arma na mão, é sua!
Tens o nome e sobrenome já
Postos no prato. Calma! Se, tens seu
Gosto levado pelo vento. É seu!

Calma! Poeta,
Tens à mão a valentia,
Tens a arte-lharia pesada!
            
                        Ivan Ribeiro