domingo, 18 de março de 2012



Autofobia

  "A mão que afaga é a mesma
 que apedreja"
                        Augusto dos Anjos


Navegar foi preciso,
Quando deixei a vida me guardar
Para o tempo, perdido me
Encontrei noutro horizonte...
Noutro corpo, fisgado pelo
Ponteiro da bussola já sem sul
Nem norte, me agrado pelo
Telhado azul do mundo. Agrado-me
Pela dor forte de meu íntimo
Mais profundo!


-Pouco a pouco me
Entreguei ao Monte Sinai, à fonte
De um outro Mestre, a um tal
Rei me despojei do mal, a uma
Tal Rosa de Saron me servi do Graal!


-Pouco a pouco me estou entregue
Ao que o bom amor divino me reserva!
 E ao Dom de ser Poeta, me entrego
À Flor de meu destino. Ó, Poesia! Estou
Eu, a conduzir-lhe em um pouco de dor?


Ó, Poesia-Flor! Defino o teu néctar
No Éden de meu sonho em que lhe
Ponho ao som dos mais sublimes cânticos
Dos rouxinóis em tênues melodias de
Harpas e guitarras. És a mais rara de uma
Doce fragrância, jamais decifrável pelo mal
E, amais de todas as cores e as tais multicolores!


-Pouco a pouco estou eu, a me reduzir
Em pó por teu raro enigma, ou estás
A me seduzir sem dó pelo sinal de minha
Clara admiração?! Ó, Feito meu!  És quem
Deve respeito além da devoção... Sou
Quem lhe deve o lado-b do peito para
O bem da nossa admiração!


Foi preciso amar odiando
A vida, e me perder no labirinto
De mim, odiei amar meu nome...
Mas, destes o merecido soco da
Realidade nesta face em que me
Guardei. Nocauteando, foi o riso teu que
Do meu pranto fez-me adorar de onde
A causa de uma vida com lealdade...
Uma saída de liberdade para crer em seu valor.


Já por ti me salvei do abismo
Em que me encontrei, em que me
Joguei do auto-luxo ao mais baixo
Lixo do perigo que me via sem a Amiga mais
Fiel no lado-b do peito, aonde fora, onde fora a
Lacuna do mundo, mundo vasto mundo,
Se lá Raimundo morasse, teria mais clima,
Não teria jamais a voz da solidão, então;
-Aluna do mundo, mundo vasto mundo,
Tão mais vasto foi este meu eco de escuridão.


Em um náufrago, dentro do espelho
Onde me enfiei com dores e os amores
Interditados que muito os privei com mimo
E leite com cowboy e doce de bílis recheado
Com patê e cobertura de Jererê a gosto
Do Bebê de Rose Mary, assim fui criado no
Lado-a do meu desgosto.


Precisei de motivo e vivi para
As migalhas. Sobreviví para afogar
Num cowboy o meu sobrenome
Já amargo por dizer ao largo riso no rosto
Sem cor nem por mostrar.


Já deixei de me deixar
Por aí à toa sobre um outro chão,
De tomar o tempo construído
Pela invenção de culpas vãs
E, imediatas, sob um inconstelado de
Fragmentos e ecos falsos.


Agora estou torto em meu canto,
Em um momento presente um
Presente, em meus versos me
Venho com segredo,...
Tal é o medo que me tenho no auto
De minhas rugas, de minhas culpas
E nas quinas de minhas fugas;


-Se o que me dói, igualmente
Fosse diversão. Ah, seria, eu, o meu
Herói de mim! Se há sentido mais que
Vivido por ser vendido, ser lido com prazer
É por escrever com o que em mim
Mais me dói e não me destrói!


                                                Ivan Ribeiro


  


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